
Extinção (2)
O Brasil parece ter sido escolhido para ser a vitrine de toda a exuberância da vida no planeta, e detém 15% de todas as formas conhecidas de vida na Terra. Existem em nosso país 120.000 espécies de animais e 50.000 espécies de plantas. Entre os vertebrados, são 713 espécies de mamíferos, 1.900 espécies de aves, e 4.700 espécies de peixes. Segundo os biólogos, existem ainda aqui mais de 100.000 invertebrados. Mais espécies são descobertas todos os anos, e, em escala mundial, 18.000 novas formas de vida foram descobertas em 2013.
Como exemplos, na Califórnia, nos EE UU, foi descoberto um camarão com 3 mm, o menor do gênero. Na Costa Rica, foi trazido ao conhecimento da ciência uma minúscula vespa (Tinkerbella nana) com asas dotadas de franjas, com 0,024 cm. Na Austrália foi descoberto um fungo que brilha em cor laranja. No Brasil, há poucos anos, o mundo celebrou a descoberta de um novo primata, mico-leão-da-cara-preta, localizado no litoral do Paraná. Mesmo com tantas descobertas efetivadas anualmente, o número de espécies que se extingue é maior.
Tinkerbella nana Mico-leão-da-cara-preta
A extinção de espécies é mais séria do que se imagina
Este fato deixa cientistas, biólogos e botânicos desesperados, pois as pessoas não têm ideia do que se perde quando uma espécie se extingue. Deixa de existir não só uma das joias da coroa preciosa da vida, mas uma quantidade incrível de possibilidades como a descoberta de novos remédios, novos alimentos, novas estruturas genéticas, e a perda de tudo o que isto significa em termos de melhora da qualidade de vida da população, cura de doenças, alívio de sofrimento, geração de emprego e renda, ou, em termos gerais, a diminuição da miséria humana.
Nos Estados Unidos, 25% das receitas médicas aviadas em farmácias são substâncias extraídas de plantas, 13% são obtidas de micro-organismos e 3% de animais. A aspirina, a droga mais usada no mundo, foi obtida do ácido salicílico da planta ulmária. Na desprezível sanguessuga foi identificada a hirudina, um forte anticoagulante usada em vários remédios. Uma substância isolada do morcego-vampiro abre artérias bloqueadas e salva vidas diariamente.
Ulmária
Pervinca rósea Katemfe
A pervinca rósea (catharanthus roseus), comum na cidade, conhecida como beijo-rosa, ou beijo-de sol, alvo de estudos farmacêuticos por sua suposta ação antidiurética, deu à medicina dois potentes anticancerígenos que curam a maior parte das vítimas do mal de Hodgkin e a leucemia linfática aguda, que atinge principalmente crianças. Outras utilidades, no entanto, são indicadas por plantas. Uma delas, a katemfe, do oeste da África, tem uma proteína 1.600 vezes mais doce do que a sacarose do açúcar.
Estima-se que menos de 3% das plantas floríferas do mundo tenham sido pesquisadas à procura de princípios ativos capazes de ajudar na cura de doenças. No Brasil, com uma longa tradição de desprezo pelo seu imenso patrimônio natural, as coisas são ainda piores, mas alguns exemplos fazem surgir esperança no horizonte. Pesquisas efetuadas com a casca da jabuticaba pela Universidade Federal de Lavras conduziram a uma farinha a ser usada não só como corante mas também como aditivo para enriquecer alimentos. Em Pelotas, RS, a Embrapa conduz um projeto que avalia compostos da pitanga roxa e vermelha no combate a células de câncer.
Aveloz
A Universidade Federal da Santa Catarina realiza pesquisas com a seiva do aveloz, planta africana, mas adaptada ao Nordeste, onde é amplamente usada na farmacopeia popular, à procura de uma droga eficaz contra a esclerose múltipla. O uso por tradição, como ocorre no interior do país, pode ser uma excelente pista sobre a eficácia de drogas contidas em plantas. Uma pesquisa feita pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), com base em uma consulta feita junto à população de áreas rurais do Brasil, identificou 30 plantas de interesse, número que depois caiu para seis, entre as quais a popular jurubeba, que apresentou resultados significativos para o tratamento de úlceras e alguns tipos de inflamação. Pesquisas indicam que o babaçu, palmeira abundante no Norte do país, apresenta a maior produção de óleo vegetal conhecida, com 125 litros por ano a partir de 500 plantas adultas.
Se a ponta do iceberg parece promissora, a grande parte submersa corrobora nossa inépcia em administrar nosso colossal tesouro natural. Levamos 500 anos para estudar o valor nutricional da jabuticaba, mas a Mata Atlântica, que antes cobria 1.000.000 de km2 do Brasil, e hoje está reduzida a 7% da área inicial, levou consigo segredos inimagináveis distribuídos por milhões de espécies que foram, ao longo dos anos, transformadas em cinzas. Ainda não entendemos que, como dizia o biólogo espanhol Pere Alberch, o que existe é só uma pequena parte do que é possível.
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