Biofilia
Meio Ambiente

Biofilia

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Impressionado pela destruição e a matança causadas pela Primeira Guerra Mundial, o grande criador da psicanálise Sigmund Freud desenvolveu a teoria de que os homens abrigavam em si, por desígnio biológico, duas tendências psicológicas básicas e conflitantes; Eros, o instinto da vida, abrigaria o lado bom da humanidade, como a fraternidade, a solidariedade, o amor, a misericórdia, a caridade, o respeito, a procura da justiça, a ética, e outras. Já o instinto da morte, Tânatos, seria o causador da maldade humana, e seria o responsável pelo ódio, o rancor, a inveja, o sadismo, a crueldade, o desejo de destruir, a agressão gratuita, e tantas outras. O primeiro traria a união das pessoas, seu entendimento, a tolerância, a comunhão sadia em torno de objetivos humanos, o progresso ético, o desenvolvimento de uma justiça eficaz, o desenvolvimento das pessoas segundo seus potenciais intelectuais e emocionais. Já o segundo traria a intolerância, o fanatismo, a injustiça, a destruição, as guerras e a morte.

Alguns anos depois, Erich Fromm, discípulo e posterior dissidente de Freud, reformulou a abordagem freudiana, estabelecendo Tânatos não como algo inato à todas as pessoas, mas como uma psicopatologia resultante de fatores adversos ao pleno desenvolvimento delas, sendo passível de tratamento psicológico. Ele usou os termos biofilia para Eros, e necrofilia para Tânatos. A biofilia seria o primado do amor à vida, o que cresce, que se desenvolve, que encanta por suas múltiplas possibilidades e aparências, à procura da perfeição, da comunhão. A necrofilia seria o contrário, a procura e o apego ao imoto, ao que não cresce, ao que não muda, a eterna mesmice da matéria. Além de lutar para preservar a vida e combater a morte, a biofilia almeja o crescimento, a integração e a felicidade humana. A ética da biofilia é o bem, entendido como tudo aquilo que preserva, serve, dignifica e eleva a vida. O mal seria a falta do bem, e não existe como entidade própria, mas como fenômeno de escassez, de vazio. A tristeza é fenômeno de escassez, a alegria de abundância. A fome é escassez, o apetite é abundância.

Fromm sugere que os homens sejam criados em ambientes de abundância, em meio a pessoas que amam a vida, em ambientes sem injustiças, em que todos tenham oportunidades similares, e em liberdade para se desenvolver de acordo com seus potenciais.

Apesar de apelos necrófilos feitos por grupos de rock, como o Grateful Dead (os mortos agradecidos), e o anúncio de sites oferecendo camisas ornadas com caveiras de diversos estilos, e séries de TV com nomes suspeitos, como “The Walking Dead” (os mortos que andam) a biofilia está na moda, e várias pesquisas apontam nesta direção.

A Biofilia tornou-se tendência nas grandes cidades

É crescente a procura de pessoas, principalmente residentes em áreas urbanas, por passeios e excursões a parques e jardins onde possam passar horas em meio a florestas, onde todo o arcabouço e a complexidade integrada da vida pode ser curtida. Ter em torno de si a mirabolante quantidade de formas de vida que formam uma selva, com toda a comunhão de seres vivos atuando em conjunto para que a vida cresça e se desenvolva, é um sentimento inesquecível e reconfortante. Isto se torna evidente quando observamos a colossal quantidade de carros que, em vésperas de feriados, deixa a cidade à procura do interior, ou das praias. Os que ficam procuram parques, jardins, praças e zoológicos para seus momentos de paz próximos à natureza.

Uma reportagem sobre o assunto na última edição da National Geographic, revela que os que caminham por matas por 15 minutos apresentam uma queda de 16% na hidrocortisona, hormônio do estresse, queda de 2% na pressão sanguínea e 4% no ritmo cardíaco. A Coréia do Sul criou 4 florestas terapêuticas próximas a Seul, e vai plantar mais 34 até 2017. No mesmo país, a Universidade Chungbuk oferece cursos de terapia florestal. Na Suécia, uma médica constatou que, após um difícil exercício de matemática, os batimentos cardíacos dos pesquisados voltavam ao normal mais rápido quando eram expostos a cenas de natureza e sons de pássaros.

E o Brasil, será que tem potencial nesse assunto?

País tropical detentor da maior biodiversidade do mundo, o Brasil tem muito a oferecer neste assunto, embora a maioria dos parques nacionais estejam às traças, mal administrados e mal cuidados, e as prefeituras em geral primam por cultivar espécies que não têm nada a ver com nossa cultura e nossos biomas. Os jovens, assim, se veem privados de conhecer maravilhas como os ipês, os jequitibás, as piaçavas, e outras que trouxeram êxtase a cientistas estrangeiros como Charles Darwin, Saint-Hilaire, Martius, e outros mais.

Todos foram superados, no entanto, por João Guimarães Rosa, que trouxe a beleza do sertão aos lares brasileiros, no seu fantástico “Grande Sertão: Veredas”. Como exemplo, há o texto em que Riobaldo aprende com Diadorim a admirar os pássaros; Até aquela ocasião, eu nunca tinha ouvido dizer de se parar apreciando, por prazer de enfeite, a vida mera deles pássaros, em seu começar e descomeçar dos voos epousação. Aquilo era para se pegar a espingarda e caçar. Mas o Reinaldo gostava: E formoso próprio… ele me ensinou. Do outro lado, tinha vargem e lagoas. Pra e pra, os bandos de patos se cruzavam. Vigia como são esses… Eu olhava e me sossegava mais. O sol dava dentro do rio, as ilhas estando claras. E aquele lá: lindo! Era o manuelzinho-da-crôa, sempre em casal, indo por cima da areia lisa. Machozinho e fêmea às vezes davam beijos de biquinquim a galinholagem deles. É preciso olhar para esses com um todo carinho…

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