Cães e Homens
História

Cães e Homens

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Segundo pesquisas arqueológicas recentes, cães e homens convivem há mais de 32.000 anos, bem antes, portanto, da descoberta da agricultura e da fixação dos nossos ancestrais em cidades. Conforme se sabe, os homens então viviam em bandos de algumas dezenas de pessoas que viviam da coleta de frutos e bulbos comestíveis e de alguns animais que conseguissem caçar. Os restos da caça eventual ficavam para trás, atraindo bandos de lobos, que foram aos poucos perdendo sua natural agressividade e se acostumando com a presença humana. Ocorreu, assim, não a domesticação dos ancestrais do cão, mas a sua autodomesticação, a troca de algumas características inatas pelo conforto da comida farta. Os lobos ferozes seriam enxotados ou mortos pelos humanos, e os mais mansos iniciaram um processo de aproximação, com vantagens mútuas, que já dura vários séculos.

A associação do cão ao homem rendeu uma amizade fértil, profunda, e eterna, e os caninos passaram a exercer importante papel na própria história na humanidade, sendo mostrados já como colegas de caça nas pinturas rupestres de 4.500 AC na Espanha e França, sendo considerados deuses pelos egípcios antigos, como Anúbis, e na mitologia grega foi Argos, o cão de Ulisses, o único a reconhecê-lo após voltar ao lar depois da odisseia. Ainda na mitologia grega, o cão Cérbero, de três cabeças, irmão de Hidra, guarda os portões do inferno.

Cães e homens no mundo moderno

No mundo moderno, o cão continua ocupando lugar de destaque na cultura, nas artes e nas Ciências de diversos países, como a cadela Laika, o primeiro ser vivo a ser lançado no espaço, morta em 1957 a bordo do Sputnik soviético. Depois dela, as cadelas Strelka e Belka conseguiram voltar com vida à terra em 1960, a bordo do Sputnik 5. Na Irlanda, o cão Bobby ganhou estátua a permanecer por 14 anos guardando o túmulo de seu dono, o policial John Gray. Na Inglaterra, o cãozinho Pickles ganhou fama ao descobrir a taça Jules Rimet, roubada dias antes. Nos EE UU, no Alaska, o husky Balto também ganhou várias estátuas por puxar por vários quilômetros, em terreno congelante, um trenó destinado a prover remédio para uma cidade sitiada e vítima de uma doença contagiosa.

Até na música os cães deixaram seu legado. Foi Bimbel, cachorro de Mozart, que achou seu túmulo no cemitério de Salzburgo, onde o músico genial havia sido enterrado como indigente.

Freud e sua companheira inseparável

O caso mais emblemático do profundo relacionamento entre uma pessoa e seu cão nos foi legado por Sigmund Freud, o pai da psicanálise. Admirador dos chow-chow, raça desenvolvida na China há mais de 2.000 anos, Freud adquiriu uma fêmea da raça, Lun-Yug, em 1928. Poucos meses depois, no entanto, ela morreu atropelada nos trilhos da estação de Sazburgo quando ia ser levada a Viena.

Em Março de 1930 Freud comprou Jo-Fi, irmã de Lun-Yug. Companheira inseparável do psicoanalista, Jo-Fi participava até das sessões com seus clientes, e, de acordo com um deles, recebia mais atenção do que o paciente. Em Janeiro de 1937, Jo-Fi foi submetida a uma pequena cirurgia e morreu de ataque cardíaco. Freud, muito abalado pelo fim de um relacionamento de 7 anos, já no dia seguinte adquiriu Lun, outra cadela chow-chow, que o acompanharia pelo resto da vida. Segundo seus biógrafos, ele tinha uma inabalável confiança nos cães porque os achava puros, intocados pela civilização. Quando o grande cientista faleceu em Londres, em 23 de setembro de 1939, Lun estava no quarto.

Heróis caninos no Brasil

No Brasil, a presença de cães nas páginas dos jornais é intensa, a maioria das notícias relatando ataques de pit-bull a seus donos e parentes, mas também temos nossos heróis caninos. No Rio de Janeiro, em 2003, o vira-lata Falcon levou três tiros para impedir ladrões de levarem o carro de sua dona, estacionado perante sua casa. Em Guarujá, São Paulo, a cadela Xuxa, apesar do pequeno porte, salvou uma mulher que carregava um bebê no colo do ataque de um pit-bull e uma rottweiler. Apesar da briga desigual, Xuxa foi socorrida, levou alguns pontos e passa bem. Em Belo Horizonte, em Maio de 2013, a cadela Tica, mestiça de rottweiler, avançou sobre assaltantes que entraram em sua casa e, apesar de baleada na cabeça, colocou-os para correr.

No Rio, em Agosto de 2012, a cadela Nina salvou seu dono ao indicar aos bombeiros o lugar onde se encontrava, no fundo de um barranco onde fora jogado por marginais que o haviam roubado. Também no Rio, a cadela Carminha ficou famosa ao engarrafar a ponte Rio-Niterói em Outubro de 2013. Desprezada pelos donos, Carminha, que morava em Niterói, foi levada para Itaboraí, a 30 km de casa. Vinte dias depois, ela apareceu fraca e faminta no portão dos donos. Várias pessoas apareceram para adotá-la. Em Cabo-Frio, funcionários da UPA local cuidam de Caramelo, uma pequena cadela que chegou ao local acompanhando seu dono, que morreu ao ser atendido, e que continuou esperando por ele.

Na literatura nacional, os cães também fizeram história. Dentre vários exemplos, Clarice Lispector viveu com o seu fiel companheiro Ulisses, em seu apartamento em Copacabana por longos anos. Foi ela quem disse; Só não gosta de animais quem teme sua própria animalidade.

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