
Colapso
Muitas críticas têm sido feitas, ultimamente, ao suposto alarmismo criado por ambientalistas e cientistas em geral sobre diversos assuntos que dizem respeito à sustentabilidade da nossa civilização perante riscos como aquecimento global, desmatamento desenfreado, crise no abastecimento de água, secas prolongadas, aumento geométrico da população mundial, consumismo, etc. Tragédias ambientais sempre ocorreram, e sempre lemos nos jornais sobre elas. Poucas pessoas, no entanto, têm conhecimento de colapsos ambientais desastrosos ocorridos no passado, e que levaram algumas civilizações à extinção. Um caso chama a atenção, pela quantidade de informações coletadas antes e depois do desastre, o que permitiu o acompanhamento de todo o processo envolvido no fenômeno, conforme descrito no livro “Colapso” de Jared Diamond.
A ilha de Páscoa, situada a 3.700 km a oeste do Chile, com cerca de 170 km², foi habitada por polinésios que chegaram à ilha por volta de 900 DC. A população, que chegou a 15.000 pessoas em seu auge, cultivava bananas, taro, um tipo de inhame, cana-de-açúcar e amora, também criava galinhas e contava com uma farta dieta de peixes oceânicos, como atuns e golfinhos, facilmente pescados pelas grandes canoas feitas com troncos das árvores imensas que cresciam na ilha, até então coberta por uma luxuriante vegetação intocada.
O exame minucioso dos monturos de lixo deixados pela população nas vizinhanças de suas casas revela, com precisão incrível, a jornada dos habitantes rumo à sua ruína. Os detritos mais velhos, os primeiros a ser descartados, revelam uma dieta rica em peixes oceânicos, várias espécies de frutas e sementes comestíveis da floresta que cobria a ilha, ossos de galinhas, e várias espécies arbustivas que eram consumidas e o uso de espécies de árvores preciosas, como as que proviam os troncos para a construção das enormes canoas polinésias, como lenha. Com o passar dos anos, os monturos intermediários revelaram o empobrecimento da dieta, com menos espécies vegetais sendo consumidas, e queda na qualidade e no tamanho dos peixes, pois as árvores usadas para fabricar as canoas foram se tornando raras, e o consumo de ouriços e moluscos que antes eram desprezados como alimento.
As aves nativas (seis espécies) desapareceram da dieta, foram extintas por caça excessiva, sendo substituídas pelo consumo de ratos. Por fim, já perto do colapso daquela civilização, com o fim da fauna e da flora nativas, ossos humanos começaram a aparecer nos monturos de lixo. Na falta total de alimentos, e em meio a guerras por comida, o canibalismo se instalou como prática normal entre os sobreviventes da ilha. Esta trilha fatal foi seguida também pelos maias, da América Central, e o povo anasazi, do sudoeste dos EE UU, hoje extinto. Em resumo, a chegada ao paraíso, a fartura, o uso irresponsável dos recursos naturais, o crescimento exponencial da população, a chegada da penúria, as guerras e o fim do povo em questão.
Moais, ilha de Páscoa
A responsabilidade para evitar um desastre semelhante é nossa
Conhecedores destas histórias apavorantes, tudo que os cidadãos responsáveis do planeta, ambientalistas ou não, querem, é que nunca tenhamos que enfrentar uma situação parecida em escala global. Como os habitantes de Páscoa, uma ilha isolada, sem poder receber ajuda de outros povos ou países, o planeta Terra é um sistema fechado, e a possibilidade de importarmos alimentos ou oxigênio de outros planetas é nula. Ações ambientalmente corretas feitas agora, por cidadãos e governos, mudariam o alarmismo atual.
Tidos como pessimistas sobre nosso futuro, os ambientalistas são muito menos alarmistas do que os artistas; no livro “Admirável Mundo Novo”, de A. Huxley, a humanidade termina como um bando de retardados controlados pelo onipresente Big Brother. No romance “No mundo de 2022”, de Harry Harrison, no mundo super-populado, os humanos só têm uma fonte remanescente de comida; biscoitos feitos com os corpos dos mortos. No filme “O Planeta dos Macacos”, baseado no livro “La Planète des Singes”, de Pierre Boulle, após uma hecatombe nuclear, os sobreviventes são escravizados por um bando de macacos belicosos.
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