
O Mercúrio e Você
Juntamente com o bromo, o mercúrio é um dos elementos líquidos da tabela periódica dos metais, que engloba todos os átomos estáveis da natureza, a partir dos quais toda a matéria é constituída. O nome deriva de Mercúrio, o mensageiro dos deuses gregos, pela velocidade com que se movimenta quando escorre livre por superfícies inclinadas. O mercúrio tem uma densidade altíssima de 13,5, o que quer dizer que um litro de mercúrio pesa o mesmo que 13,5 litros de água. Apresenta uma propriedade interessante, que é a de aumentar seu volume quando esquentado, o que explica seu amplo uso em termômetros. Até recentemente era usado na odontologia como o amálgama, mistura dele com prata, estanho e cobre, usado para preencher orifícios dentais após a retirada das cáries.
Termômetro Amálgama
Na antiguidade, vapores de mercúrio eram usados no tratamento da sífilis, mas as vítimas faleciam em pouco tempo, por envenenamento pelo metal, apresentando os sintomas clássicos, como a perda dos cabelos e dentes, baba incontrolável, anemia, depressão e insuficiência renal e hepática. No mundo moderno, o mercúrio é usado nas lâmpadas fluorescentes, que contêm de 3 a 10 g de vapor de mercúrio cada, e a quebra de várias delas em um quarto fechado traria graves consequências a um possível morador.
Este metal, no entanto, ficou famoso no mundo inteiro quando veio à tona o desastre ecológico ocorrido na baía de Minamata, no Japão. No local, instalou-se em 1908 uma fábrica de fertilizantes, que depois passou também a fabricar plástico PVC, amplamente usado na construção civil e indústrias para a fabricação de dutos e tubos. Em 1951, aquela indústria passou a usar compostos de mercúrio para acelerar as reações necessárias à produção. Cinco anos se passaram até que, em 1956, pessoas e animais domésticos residentes em torno da baía onde eram despejados os rejeitos da fábrica começaram a apresentar deficiências na linguagem, no movimento das pernas, e ataques seguidos de convulsões. Inicialmente o governo japonês achou tratar-se de alguma doença transmissível, e não deu muita atenção ao problema. Os cientistas, no entanto, logo perceberam que se tratava de um mal local, e estudos revelaram o verdadeiro causador da tragédia; a ingestão cumulativa do mercúrio através de dieta intensiva de peixes contaminados pelo metal.
Estudos posteriores revelaram a enorme toxidade do elemento à vida humana, que ataca o sistema nervoso, causando tremores, insônia, falta de memória; os rins, causando necrose e insuficiência renal; o coração, levando a enfartes do miocárdio; os pulmões, vítimas de bronquites crônicas; e a pele, que apresenta hiperpigmentação e granuloma. A revelação da tragédia só ocorreu em 1972, com a divulgação de fotos de um fotógrafo americano mostrando a menina Tomoko, gravemente atingida pelo envenenamento por mercúrio, com os braços e pernas deformados, e que veio a falecer em 1977.
No total, 900 pessoas perderam a vida, e milhares sofreram diversos tipos de deficiências graves. Para tentar resolver o problema, o governo japonês dragou a baía de 1977 a 1990, removendo mais de um milhão de toneladas de lodo contaminado. As autoridades calcularam que entre 200 e 600 toneladas de mercúrio foram despejadas no local, e seus efeitos se prolongam até os dias atuais, pois descobriu-se também que o metal é genotóxico, atuando no genoma das vítimas, e trazendo assim grave risco de deformações em filhos e filhas.
Infelizmente ainda se produzem quantidades absurdas de mercúrio mundo afora
Cerca de 10.000 toneladas de mercúrio são produzidas anualmente no mundo, sendo a Espanha a maior produtora. Cientes dos males provenientes do mal-uso do metal e a possibilidade de acidentes graves, a Argentina, a Índia e Filipinas proibiram seu uso em seus territórios. No Brasil, estamos à procura de Minamata. No vale do Tapajós, o mercúrio usado pelos garimpeiros para recuperar o ouro de suas bateias, cerca de 12 toneladas/ano, é liberado no meio ambiente, e concentra-se na fauna aquática, e à medida que se sobe na cadeia alimentar, comer grandes peixes predadores como tucunarés já é vista como atividade de risco por especialistas.
Médicos e pesquisadores já encontram moradores de vilas ribeirinhas com problemas de visão e atrofias musculares. Em Novembro de 2014, no Rio, a Anvisa interditou um lote de cação, um tipo de tubarão, por apresentar um teor de mercúrio 20% acima do limite considerado seguro, que é de 0,5 mg/kg. Uma pessoa que ingerisse o peixe proibido seguidamente por semanas, meio quilo por refeição, logo teria problemas associados ao mercúrio.
A maior fonte de mercúrio na atmosfera é a queima de carvão mineral. Dali se concentra no mar e vai ao fundo dos oceanos, onde se acumula em pequenos organismos, que servem de alimento a outros maiores, e assim sucessivamente até se tornar uma ameaça, pois o metal não é eliminado dos organismos, e os predadores como tucunarés, cações e tubarões apresentam os maiores teores do elemento na natureza.
E você, o que achou deste artigo? Curta e comente abaixo.