
Ode às aranhas
Odiadas pela maioria das pessoas, as aranhas são na verdade amigas dos homens, pois consomem durante suas vidas grande quantidade de insetos, como moscas e mosquitos, gafanhotos, grilos, baratas, mariposas, besouros, e, é claro, outras aranhas. Alguns as adoram, como os índios caiapós e parecis, do Pará, que degustam caranguejeiras assadas com grande apetite. As aranhas fazem parte do grupo dos aracnídeos, ao qual também pertencem os ácaros, carrapatos e outros. Seu nome vem da grega Aracne, que tinha grande habilidade em bordar, e, levada pela admiração dos conterrâneos por seus trabalhos, comparava-se à deusa Atena. Esta, furiosa pela insolência da mortal, rasgou um magnífico bordado de Aracne, que, de desgosto, se matou. Atena então trouxe-a de volta à vida e a transformou numa aranha, para que continuasse seus belos trabalhos.
Aranhas têm sempre oito pernas, e normalmente também 8 olhos, mas este número varia chegando ao extremo de várias espécies de caverna não terem olhos nenhum, usando sensores de movimento para suas caçadas a insetos. Algumas são enormes, como as da espécie Theraphosa, com cerca de 20 cm, que chegam a matar pássaros, e outras são minúsculas, como a Patu, da Colômbia, que cabe numa cabeça de alfinete. As espécies de grande tamanho, em geral inofensivas, chegam a ser vendidas em casas de venda de animais de estimação, como a que estrelou o filme “Esqueceram de mim”, em que o jovem assediado pelos ladrões da casa onde morava usa sua amiga aranha para aterrorizar um dos meliantes.
Em um dos filmes da série 007, o ator Sean Connery, aracnófobo histérico, se recusou a filmar uma cena em que uma aranha andava sobre seu peito, e a solução encontrada foi fazer o aracnídeo supostamente letal andar sobre uma lâmina de vidro não reflexivo colocada no local. O pavor da maioria das pessoas a estas criaturas é infundado, pois das mais de 40.000 espécies conhecidas, apenas 30 no mundo inteiro podem oferecer algum risco a pessoas, e no Brasil apenas 4 espécies são consideradas perigosas pelo Ministério da Saúde, entre as quais a famosa viúva-negra.
Viúva-negra Aranha fiandeira
As aranhas mais interessantes, no entanto, são as chamadas fiandeiras, que tecem fios por uma glândula no abdômen, e com eles fazem teias elaboradas para prender e digerir insetos. O fio é uma estrutura proteica super resistente, 6 vezes mais forte do que um fio de aço do mesmo diâmetro, que pode esticar até a quatro vezes seu comprimento normal, e que aguenta temperaturas de até -45 graus Celsius sem perder a eficácia. Com ele, as aranhas constroem rapidamente suas teias, o que constitui uma tática eficiente e fácil de captura de insetos, comparada à das andorinhas e morcegos que, para caça-los no ar, dependem de voos velozes e recursos de alta tecnologia de localização do alvo para pegá-lo em pleno voo.
As curiosas estratégias de caça de algumas espécies
Para iniciar sua teia, a aranha deixa pender um longo fio achatado e pegajoso no ar, que funciona como uma pipa, até que o vento o prenda a alguma vegetação próxima, após o que ela rapidamente prende o fio, e o estica de maneira a servir de base para a estrutura arredondada que faz a seguir. Algumas espécies são especializadas em comer mariposas, e soltam um hormônio similar aos usados por aqueles insetos para atraí-los. Como elas, presas na teia costumam rolar para baixo para escapar da armadilha grudenta, a aranha em questão tece uma extensão vertical da teia, para baixo, para não deixá-las escapar.
Outras espécies fazem teias triangulares, cruzadas por fios grudentos que se soltam na extremidade inferior ao menor toque, e o inseto grudado fica voando em círculos até que a dona da teia chegue, atraída pelas oscilações, e o mate. A mais criativa, no entanto, é a aranha boleadeira, que usa a tática desenvolvida por nativos sul-americanos de amarrar dois pesos em um pedaço de corda e arremessa-lo nas pernas de emas, para derrubá-las. Esta aranha sul-americana não faz teias, mas fica jogando seu fio pegajoso com uma gota de água envolvida por seda na extremidade, para dar peso, e tentar assim atingir mariposas passantes.
Alguns estudiosos alegam que os nativos, observando-a caçando, é que copiaram a técnica. Mais fascinante é o lado procriativo destes seres, pois em geral as fêmeas são maiores que os machos e costumam devora-los após a cópula. Sabendo disto, os machos tem extrema cautela na aproximação, e alguns deles costumam chegar na borda da teia da fêmea e dedilhar alguns fios da teia como se fosse uma harpa, o que parece aplacar o ânimo da namorada, que se torna mais receptiva à paquera. Outros levam uma mosca embrulhada em seda e presenteiam a companheira. Só após as presas dela estarem cravadas no pitéu é que ocorre a cópula. Os machos que não levam uma lembrancinha podem ser devorados rapidamente. Alguns levam um pacote de seda vazio e fogem após o acasalamento, enquanto que outros copulam, roubam o presente dado e correm, à procura de outra parceira. Tudo muito humano…
E você, o que achou deste artigo? Comente abaixo.
Rodrigo
Sempre encarei as aranhas como amigas. Em 2019 plantamos 3 mil metros quadrados de grama esmeralda na propriedade rural da família. Foi uma verdadeira fábrica de tarântulas. Durante a noite podemos observar o reflexo dos olhos delas na grama ao iluminar com lanterna mantendo a luz do terreiro apagada.