
Plantas e bruxas (1)
A caça às bruxas começou na Europa no século 14, e se estendeu até o século 18, com boa parte dela ocorrendo no período histórico conhecido como “A Idade das trevas”. Estimativas feitas por historiadores indicam que mais de 40.000 pessoas tenham sido processadas e mortas, incluídas aí crianças, camponeses, aristocratas, mulheres, sobretudo as pobres e idosas. A feitiçaria, a magia, a crença em pessoas com poderes sobrenaturais sempre fez parte das sociedades humanas, assim como monstros, duendes, magos, fantasmas e outras, como se nota nos contos e histórias que fazem parte do folclore de quase todos os países, como “Branca de neve”, “A Bela Adormecida”, e tantas outras.
Antes do século 14, o uso de magia negra, feitiçaria, poderes místicos, alquimia eram tolerados pelas diversas comunidades europeias, com a finalidade de proteger pessoas, trazer boa sorte, e aumentar safras. Mas, principalmente curar pessoas de doenças variadas, para o que eram também consultadas as mulheres idosas que detinham o conhecimento do poder das ervas medicinais, os únicos remédios da época.
Por volta de 1350, estas práticas começaram a trazer desconforto à Igreja Católica, que só as admitia quando exercidas na proteção da fé e como obras de graça divina. Quando efetuadas fora dos círculos e rituais religiosos, eram consideradas obra do diabo. A Inquisição, estabelecida pouco antes para processar hereges, passou também a perseguir as acusadas de bruxaria, que até então faziam parte do folclore popular de cada vila, o que era também um bom negócio, pois parte dos bens das acusadas e mortas passavam aos inquisidores.
O rigor dos tribunais religiosos, tolerados pelos reis e príncipes que governavam na época, se alastrou por diversos países europeus, e no auge da carnificina, entre 1500 e 1650, na Alemanha, houve algumas aldeias cuja população foi toda queimada na fogueira. Em algumas vilas suíças, não sobrou nenhuma mulher viva.
Dominar o conhecimento das ervas medicinais era considerado bruxaria na época
A maioria das condenadas por bruxaria eram mulheres, em geral mais idosas, que detinham o conhecimento, transmitido por gerações, do poder das ervas medicinais no tratamento de vários males e no alívio de dores, e também de seu poder psicotrópico. Como exemplo podem ser citadas o salgueiro europeu, em cuja casca foi depois descoberta a aspirina; a dedaleira, cujos princípios ativos diminuem e regularizam os batimentos cardíacos; a mandrágora, usada como soporífico; o meimendro, conhecido desde a antiguidade por seu poder de aliviar dores, em especial dor de dente. O gênero Datura, ao qual pertencem as trombetas, contêm alcaloides que induzem alucinações que envolviam animais, que aparecem bastante no folclore ligado à bruxaria.
Mandrágora Beladona
Um exemplo marcante é a beladona, usada na Idade Média pelas mulheres como colírio para dilatar as pupilas e torná-las, assim, mais belas, que contém a atropina, usada correntemente nos clientes de oculistas antes da consulta. Quantidades maiores desta planta, no entanto, podem induzir no paciente um sono comatoso, semelhante à morte. Esta foi a poção tomada por Julieta, dada como morta, mas que depois volta à vida para encontrar Romeu morto ao seu lado.
Tanto a mandrágora quanto a beladona e outras também têm em seu sumo alcaloides perigosos, como a escopolamina e a atropina, que induzem a agitação, delírios, euforia, e a sensação de voar e deixar o próprio corpo, ou voar em vassouras, como se alegava que as bruxas faziam. As mulheres que usavam estas drogas e relatavam a terceiros suas alucinações, eram imediatamente presas e condenadas à fogueira. Venenos poderosos também eram conhecidos, como a cicuta, que matou Sócrates em 399 A.C.
Os sapos, como os gatos, sempre presentes nos contos de bruxas, também podem ser perigosos. O veneno bufotoxina, do sapo europeu Bufo vulgaris, é uma das moléculas mais tóxicas conhecidas. Já a sistemática perseguição aos gatos, tidos como amigos das bruxas foi uma das causas, segundo alguns historiadores, da eclosão da peste negra na Europa no século 14, transmitida por pulgas dos ratos que na época viviam aos milhões nas cidades medievais. A epidemia matou cerca de metade da população europeia.
No século 18, com o inicio do Iluminismo em vários países da Europa, e a descoberta crescente da propriedade das plantas, seus agentes químicos e seus efeitos sobre a saúde humana, a caça às bruxas arrefeceu. A última bruxa queimada viva foi executada na Polônia em 1793.
Se o leitor quiser ter ideia ínfima do sofrimento de uma pessoa queimada viva, o autor sugere acender um isqueiro ou um palito de fósforo e colocar o dedo na chama…
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