
Plantas e Homens
Antes do advento da agricultura, há cerca de 10.000 anos, nossos ancestrais viviam em pequenos bandos de algumas dezenas de indivíduos, caçando pequenos animais e coletando frutos e sementes comestíveis.
Qualquer coisa palatável era preferível à opção pior, a fome. Nas planícies da Eurásia, região onde se localizam o Iraque, a Jordânia e cercanias, há uns dez mil anos atrás, alguma pessoa mais curiosa deve ter notado que, nos lugares onde se jogavam os restos do que era consumido, algumas sementes brotavam e geravam plantas semelhantes às colhidas. Estava descoberta a agricultura. Os caçador-coletores colhiam trigo silvestre e cevada e, já fazendo uso do fogo, dominado há cerca de 500.000 anos antes, moíam os grãos, misturavam-nos à água e produziam um pão nutritivo e que podia ser guardado por dias, assegurando a alimentação em períodos em que outros alimentos não estivessem disponíveis. Um tipo destes pães, arredondado, foi turbinado com vegetais na Idade Média e se tornou o ancestral da pizza.
A importância dos grãos na história da humanidade
Vestígios de grãos de cevada datando de 7.000 anos A.C. apareceram em Jarmo, norte do Iraque, e em vários sítios arqueológicos de fazendas antigas. Cereais não são apenas comestíveis, cada cápsula de trigo ou cevada é um alimento quase completo, contendo proteínas, amidos, minerais e vitaminas. Além disto, são portáteis e armazenáveis, e podem ser transformado em pão, como os descobertos em tumbas de 5.000 anos no Egito. Os cereais se juntavam, assim, à história da humanidade, da qual nunca mais se separariam.
Cevada Phoenix (tamareira)
A agricultura de grãos proporcionou o estabelecimento das primeiras cidades da história, o que, por sua vez, forçou a convivência das pessoas, o desenvolvimento da linguagem, o estabelecimento das primeiras normas de conduta, a evolução dos utensílios e o aparecimento da arte.
Outra planta intimamente ligada à nossa pré-história é a palmeira Phoenix, produtora da tâmara, fruto que por séculos sustentou as civilizações da região conhecida como Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates. Hoje extensas plantações dela se encontram no Chile e na Califórnia, EE UU. Em 1968, durante escavações no sítio da fortaleza de Massada, em Israel, sementes de uma Phoenix conhecida como tamareira da Judéia, hoje extinta, que crescia nas margens do Rio Jordão, foram descobertas. Apesar de terem mais de 2.000 anos, os cientistas conseguiram fazer brotar uma delas.
Esta planta é descrita na Bíblia, e na literatura antiga, por seus efeitos medicinais. Ela está associada à entrada de Jesus em Jerusalém, quando os seus habitantes usavam folhas dela para homenageá-lo. Os antigos hebreus a chamavam de “árvore da vida”, por suas frutas nutritivas e pela sombra formada por suas densas copas.
Pesquisas recentes indicam que a primeira árvore frutífera plantada pelo homem foi a figueira, conforme o resultado da análise de figos fossilizados encontrados nas cercanias de Jericó, em Israel. Datados em 11.200 anos, são 5.000 anos mais velhos do que a mais remota variedade cultivada de fruta. O arqueólogo Ofer Bar-yosef, de Harvard, alega que as frutas encontradas vieram de uma árvore que obrigatoriamente cresceu de uma muda, pois a planta tinha uma mutação que a tornava estéril, suas sementes nunca germinariam.
Figueira
As figueiras são exemplo de um grande sucesso evolutivo, pois medram em todos os biomas do planeta, menos na Antártida. Por séculos tiveram suas minúsculas sementes dispersas pelo vento e por animais, e se diferenciaram em 750 espécies. No Brasil há 80 conhecidas, e algumas são chamadas de gameleiras ou mata-pau. As figueiras também tem lugar em várias religiões, no budismo foi sob uma delas, ficus religiosa, que Buda atingiu o nirvana, e no cristianismo a Bíblia diz que com suas folhas, Adão e Eva cobriram sua nudez.
A notoriedade e cultivo da oliveira na história
Também citada na Bíblia, um ramo de oliveira foi trazida pelo pombo solto por Noé após o dilúvio. Originária do Mediterrâneo oriental, a oliveira também habitou civilizações antigas. A mitologia grega diz que Atena, filha de Zeus, fez com que uma delas brotasse na Acrópole, em Atenas, um presente da deusa para a cidade. Com seu rico azeite e azeitonas, vários países banhados pelo Mediterrâneo se mantiveram e prosperaram por séculos, como a Itália, que a recebeu dos gregos em 370 A.C. e se tornou o maior produtor mundial do azeite de oliva. Rico em gordura insaturada e vitaminas A, D, K e E, o azeite de oliva está em todas as dietas prescritas para uma alimentação salutar.
Azeite de oliva “As oliveiras”
Usada por séculos como símbolo da paz, ramos da oliveira contornam o mapa do mundo na bandeira da ONU. Também na história da arte aquela venerável planta fez seu lugar; Vincent van Gogh pintou o quadro “As oliveiras”, em 1889, e A. Renoir adquiriu uma chácara chamada “Les Collettes”, na Riviera Francesa, para salvar as oliveiras que ali cresciam e que iam ser cortadas. Mais tarde, ao pintá-las, o famoso pintor dizia que “basta uma rajada de vento para a tonalidade de minhas árvores mudar. A cor não está nas folhas, mas nos espaços entre elas.”
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