
Poluição sonora
À medida que crescem as cidades e a tecnologia traz ao consumo, continuamente, mais e mais aparelhos elétricos, equipamentos motorizados para diversos fins, máquinas com as mais diversas finalidades, explode o tipo de poluição que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), é o segundo tipo que mais causa doenças no mundo, a poluição sonora. Expondo a população a mais distúrbios de saúde que os causados pela água poluída, como perda auditiva, hipertensão, infarto do miocárdio, irritabilidade e depressão, a poluição sonora já é tida como uns dos maiores males do século.
Barulhos emitidos têm uma unidade, o decibel (db), de difícil definição mas de fácil percepção; um sussurro tem 15 a 20 decibéis, um automóvel passando a 20 m emite 70 db, um rojão 140 db. O limite de decibéis permitido pela legislação brasileira é de 85 db, acima disto há perda auditiva, dependendo do volume do som, tempo de exposição e sensibilidade pessoal. O tempo de exposição máxima recomendado pela ABNT é de 15 minutos para 115 db, 30 minutos para 110 db, 1 hora para 105, 2 h para 100, 4 h para 95 db, 6 h para 90 db, 8 h para 85 db.
Medidor de decibéis
Carro de som
Um dos maiores responsáveis pela epidemia de males trazidos pela exposição a altos sons é o MP3, que em vários países têm sua potência limitada, mas, no Brasil, como seria de se esperar, não há nenhum limite, e podem chegar a emitir 110 db nos ouvidos dos incautos. Aparelhos de som instalados em carros também concorrem para que cada vez mais jovens apresentem o zumbido, o primeiro sinal de perda auditiva. Outros sintomas são tonturas, dor de cabeça, prurido. Além dos males à saúde, evidências recentes levam a crer que a exposição ao som alto podem causar efeitos que levam ao vício.
A médica Keila Knobel, da Unicamp, pesquisadora do assunto, afirma que não importa se o som é agradável, mas a intensidade dele, que provoca a descarga hormonal que vicia. Em poucas palavras, o som intenso chega ao cérebro que o interpreta como uma situação de perigo, e manda um comando para a glândula suprarrenal. Esta produz adrenalina, transportada ao corpo todo pelo sangue. A descarga de adrenalina provoca a aceleração do coração, o aumento de pressão e da frequência respiratória, a dilatação das pupilas, e outros sintomas. Quando frequentes, estes picos de adrenalina podem causar efeitos similares aos de estresse acentuado.
No Rio de Janeiro, as reclamações à Polícia Militar sobre barulho chegam a primeiro lugar no ranking de ligações, com 68.389 casos no primeiro semestre de 2012, muito mais do que outras reclamações mais comuns, como brigas, lesão corporal, etc. Som alto está virando, em nossas cidades, caso de polícia, perante o escasso interesse das prefeituras em tomar atitudes para fazer valer suas leis municipais sobre o assunto.
Em Governador Valadares, as coisas conseguem ser ainda piores, pois a própria prefeitura usa carros de som para anunciar seus eventos, e a Guarda Municipal, tão zelosa na hora de multar veículos, se finge de morta quando passam as furrecas medievais a todo volume. Além de carros de som, os pobres valadarenses têm que aguentar carroças de som, motocicletas de som, bicicletas de som, e mochilas de som!!!. Nem dentro de ônibus eles escapam, pois agora é moda, passageiros já em estado de perda auditiva ouvirem celulares a todo o volume enquanto viajam.
Apesar da lei municipal 3.065, em seu art. 13 estabelecer o limite máximo de 70 db até 22 horas e 60 db à partir deste horário, carros de som infernizam impunemente cidadãos no interior de seus lares, escolas são obrigadas a esperar as joças barulhentas passarem, hospitais têm seu ambiente continuadamente violado por negociantes inescrupulosos que não respeitam aqueles que tentam conquistar como clientes. Na última blitz séria efetuada pela prefeitura, em 2013, 10 carros de som foram fiscalizados e 8 apresentaram emissões maiores do que o permitido.
As consequências devido à ausência do poder público
De lá para cá pouco mudou, e a ausência do poder público faz com que a população faça justiça ela própria. Em Belo horizonte, um advogado atingiu um motorista com um tiro após o mesmo parar o carro perante sua casa com o som a todo o volume, à uma da manhã.. Em G. Valadares, em 2009, um cidadão atirou em um pastor no Santa Rita, incomodado pelo som altíssimo gerado em um culto. Em outro caso, um juiz de direito atendeu as reclamações dos vizinhos e, tomando para si o que deveria ser resolvido pela prefeitura, mandou um templo religioso na Av. Brasil baixar o som.
Apesar das frequentes reclamações de moradores e comerciantes, de diretores de escolas, de gerentes de hospitais, e dos milhares de cidadãos que trabalham à noite e tentam descansar durante o dia, e apesar de a cidade contar com moderníssimos meios de comunicação, a bagunça continua, ao ponto de cerimônias religiosas patrocinarem amplos foguetórios à noite, em bairros notoriamente residenciais.
Varias cidades do país já proibiram a propaganda em carros de som, o que foi feito com os protestos continuados de eleitores insatisfeitos e pedidos de providências a seus vereadores. O mesmo caminho deve ser trilhado aqui, juntamente com o boicote aos comerciantes que usam estas geringonças jurássicas, para que finalmente a sociedade possa se ver livre deste incômodo que não é permitido na maioria dos países do mundo.
Como consolo, citamos o filósofo alemão Schopenhauer, que dizia que a inteligência de uma pessoa é inversamente proporcional à sua capacidade de suportar barulho.
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